A Organização das Nações Unidas prevê que a população mundial irá atingir mais de 9,7 bilhões em 2050, exigindo maior produção de alimentos para humanos e animais.

O consumo de insetos, conhecido como entomofagia, se mostra como uma alternativa e já é praticado por mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, principalmente na Ásia, África e América do Sul.

Diversos aspectos positivos dão suporte para promover o uso de insetos como uma fonte sustentável de proteína animal.

Comparados aos animais de corte tradicionais, os insetos necessitam de menos espaço e água, apresentam maior fecundidade, melhor taxa de conversão alimentar e podem ser criados em resíduos orgânicos, contribuindo para a valorização da biomassa.

Além disso, em graus variados, de acordo com a espécie, o estágio metamórfico e a alimentação, alguns insetos contêm proteína de alta qualidade e aminoácidos essenciais, tem alto teor de vitaminas e minerais.

Também apresentam baixa concentração de colesterol comparado aos produtos de origem animal e exibem uma proporção favorável de ácidos graxos ômega 6/ômega 3 e ácidos graxos poliinsaturados/saturados.

A combinação de alto valor nutricional, menor impacto ambiental e baixos custos de produção tornam os insetos particularmente interessantes como mini rebanhos voltados para a alimentação humana.

Nos últimos anos, o consumo de insetos como alternativa à proteína animal convencional tem sido estudado e incentivado por diversas organizações e grupos de pesquisa.

Em 2013, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) juntamente com um grupo de pesquisadores holandeses publicaram um relatório incentivando a produção e o consumo de insetos para a alimentação humana.

Em 2014, a Agência Federal para a Segurança da Cadeia Alimentar da Bélgica publicou normas gerais para criação e comercialização de insetos e seus derivados para o consumo humano.

A Autoridade de Segurança dos Produtos de Consumo e Alimentos da Holanda publicou um relatório concluindo que os riscos no consumo de insetos podem ser controlados pelo uso adequado das boas práticas de fabricação e higiene durante a produção, processamento e comercialização, ainda no mesmo ano, ocorreu o primeiro congresso sobre o tema, Insects to Feed the World.

Em 2015, foi criado o primeiro periódico científico sobre o assunto, Journal of Insects as Food and Feed, e o comitê científico da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos realizou uma avaliação dos riscos do consumo de insetos por humanos e verificou que não existem perigos adicionais em ingerir certas espécies de insetos comparados ao consumo de fontes convencionais de proteína de origem animal

Em maio de 2017, o órgão federal de Segurança de Alimentos e de Veterinária da Suíça reconheceu três insetos como componentes da alimentação humana, permitindo a comercialização de produtos alimentícios produzidos a partir grilos, gafanhotos e larvas de Tenebrio molitor.

Em novembro de 2019, ocorreu o primeiro congresso sobre o tema no Brasil, o Congresso Brasileiro de Insetos Alimentícios e Tecnologias Associadas (Insetec) em Montes Claros, MG, organizado pela Associação Brasileira dos Criadores de Insetos (ASBRACI, @asbraci) e pela UFMG. Este congresso contou com a participação de mais de 200 pessoas de todas as regiões do país.

Atualmente, já existem diversas empresas que produzem alimentos à base de insetos em diversos lugares no mundo. Em sua maioria, estas empresas se concentram na Europa, Ásia e América do Norte.

Os produtos mais comuns de serem encontrados são: insetos desidratados e saborizados, vendidos como snacks, insetos desidratados e moídos, vendidos na forma de pó ou farinha e barras proteicas.

De acordo com a empresa Statista, a previsão do valor deste segmento de mercado (insetos comestíveis) irá triplicar em cinco anos, indo de 406 milhões de dólares em 2018 para 1.2 bilhão em 2023.

Sendo que na América Latina o valor estimado de mercado em 2018 foi de 92 milhões de dólares com estimativa de chegar em 251 milhões em 2023.


O Ciência de Alimentos Blog agradece especialmente ao amigo Antonio Bisconsin Junior (@abisconsin), que contribuiu com esse material incrível para divulgação. O Antonio está no doutorado e trouxe o assunto dos insetos para o Departamento de Alimentos e Nutrição da FEA.

Atualmente, neste departamento, duas professoras estão desenvolvendo pesquisas no assunto, a Profa Lilian Mariutti (a sua orientadora) e a Profa Flavia Netto.

Até o momento, o grupo de pesquisa publicou um capítulo de livro de receitas com insetos comestíveis, voltado a popularizar a ideia do uso de insetos como ingrediente alimentício.

Um artigo científico em que avaliaram a percepção do brasileiro em diferentes regiões do país sobre insetos comestíveis e ainda tem mais um outro artigo científico saindo sobre a percepção de risco e segmentação de consumidores brasileiros com relação ao uso de insetos nos alimentos.

No dia 22 de setembro de 2020, eles irão estar na mesa redonda online sobre insetos comestíveis.

O evento será exibido no canal do youtube da FEA, Unicamp, das 14 às 17:30. Serão 8 palestras de 15 minutos cada, com um bate-papo entre os palestrantes respondendo às perguntas dos ouvintes.

Referências:

AFSCA (AGENCE FÉDÉRALE POUR LA SÉCURITÉ DE LA CHAÎNE ALIMENTAIRE). (2014). Circulaire relative à l’élevage et à la commercialisation d’insectes et de denrées à base d’insectes pour la consommation humaine. Disponível em: http://www.afsca.be/denreesalimentaires/circulaires/_documents/2014-05-21_Circulaire_insectes_version11.pdf Acesso em: 19/02/2016.

BISCONSIN-JUNIOR, A., JANUÁRIO, L.A., NETTO, F.M., MARIUTTI, L.R.B. (2018). Composição de insetos comestíveis. Anais do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciência e Tecnologia de Alimentos (CBCTA).

BISCONSIN-JÚNIOR, A., RODRIGUES, H., BEHRENS, J. H., LIMA, V. S., DA SILVA, M.A.A.P., DE OLIVEIRA, M.S.R., JANUÁRIO, L. A., DELIZA, R., NETTO, F.M., MARIUTTI, L.R.B., Examining the role of regional culture and geographical distances on the representation of unfamiliar foods in a continental-size country. Food quality and preference, v. 79, p. 103779, 2020.

CANESIN, M.R., BISCONSIN JUNIOR, A., MARQUES, M.C., CAZARIN, C.B.B., MARIUTTI, L.R.B. (2019). Peixes de água doce. In: Ramon Santos de Minas; Angela Kwiatkowski. (Org.). Insetos na alimentação humana: Guia prático de receitas. 1ed.Brasília: Kiron, 2019, v. , p. 161-190.

FSVO (FEDERAL FOOD SAFETY AND VETERINARY OFFICE). (2017). Requirements of foodstuff legislation for the importation and placement on the market of insects as foodstuffs. Disponível em: https://www.blv.admin.ch/blv/en/home/import-und-export/import/importe-aus-der-eu/lebensmittel-und-gebrauchsgegenstaende.html. Acesso em: 19/10/2017.

HARDY, et al. (2015). Risk profile related to production and consumption of insects as food and feed. EFSA Journal, 13(10), 4257.

MELGAR-LALANNE, G., HERNÁNDEZ-ÁLVAREZ, A.J., SALINAS-CASTRO, A. (2019). Edible Insects Processing: Traditional and Innovative Technologies. Comprehensive Reviews in Food Science and Food Safety, 18(4), 1166-1191.

NVWA (NEDERLANDSE VOEDSEL-EN WARENAUTORITEIT). (2014).  Advisory report on the risks associated with the consumption of mass-reared insects. Disponível em: https://www.nvwa.nl/txmpub/files/?p_file_id=2207474 Acesso em: 19/02/2016.

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VAN HUIS, A., VAN ITTERBEECK, J., KLUNDER, H. C., MERTENS, E., HALLORAN, A., MUIR, G., VANTOMME, P. (2013). Edible insects—future prospects for food and feed security. FAO, Rome. Disponível em: http://www.fao.org/docrep/018/i3253e/i3253e.pdf Acesso em: 01/10/2015.

VAN HUIS, A. (2013). Potential of insects as food and feed in assuring food security. Annual Review of Entomology, 58, 563–583.

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