Muitas dúvidas surgem quando falamos de probióticos, prebióticos e simbióticos. Quais são suas diferenças? Onde encontramos? Quais os benefícios para a saúde de cada um deles?
Calma, vamos ver como tudo começou:
PROBIÓTICOS
O termo “probiótico” vem do latim “pro”, que significa “para” e do grego “biótico” que significa “bios” ou “vida”.
Por muito tempo, culturas antigas consumiram alimentos fermentados com fins terapêuticos. No entanto, os componentes microbianos vivos desses alimentos não eram conhecidos na época.
Foi apenas em 1890 que o Lactobacillus acidophilus foi descoberto pelo médico australiano Ernst Moro e posteriormente em 1899 a descoberta de Bifidobacterium pelo pediatra Henry Tissier.
Tissier descobriu que as bifidobactérias eram dominantes na microbiota intestinal de bebês amamentados e observou benefícios clínicos no tratamento da diarréia infantil com a mesma bactérias.
E foi em 1953 que a palavra probiótico foi usada pela primeira vez, pelo médico alemão Werner Georg Kollath, quando sugeriu o termo para denotar todos os complexos alimentícios orgânicos e inorgânicos como probióticos, para contrastar com os antibióticos que existem na época.
Os efeitos prejudiciais dos antibióticos e de outras substâncias antimicrobianas na época eram então comparados com os fatores favoráveis da microbiota intestinal e assim criou-se a expressão probiótico.
Outra definição, por exemplo, sugeria que os probióticos eram “microorganismos que promoviam o crescimento e desenvolvimento de outros microorganismos”, algo como = pró-bio, pró-vida.
Definição atual
Bom… atualmente os probióticos são definidos como “microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem um benefício à saúde do hospedeiro”.
Os probióticos abrangem diferentes modos de administração (oral, intravaginal, tópico), várias categorias regulatórias (alimentos, suplementos alimentares, fórmula infantil, medicamentos e dispositivos médicos) e múltiplos mecanismos de ação (veja abaixo para mais detalhes).
Probióticos são comumente entregues em alimentos, como iogurte ou como suplementos nutricionais. Os probióticos também são usados para manter a saúde animal (por exemplo, gado) e podem ser incluídos em suplementos e rações animais.
Diferentes regulamentações relacionadas a padrões de segurança, reivindicações permitidas e requisitos de fabricação são aplicáveis a cada categoria de produto e a cada região geográfica (cada país).
Microbiota específica
A maioria dos probióticos comerciais são cepas microbianas específicas dos gêneros Bifidobacterium, Lactobacillus e Saccharomyces, e menos comumente de Bacillus, Propionibacterium, Enterococcus, Pediococcus e outros.
Contudo, há pesquisas ativas sobre a identificação de novos candidatos a probióticos isolados de diferentes locais do corpo de pessoas saudáveis.
Os microrganismos vivos podem estar presentes em muitos alimentos e suplementos, mas apenas as cepas caracterizadas com um efeito cientificamente demonstrado na saúde devem ser chamadas de probióticos.
Sendo assim, microrganismos vivos presentes em alimentos e bebidas fermentados tradicionais, como kombucha, chucrute e kimchi, normalmente não atendem ao nível de evidência exigido para serem chamados de probióticos
Uma vez que seus efeitos à saúde não foram bem exclarecidos ainda e as misturas são pouco caracterizadas.
Contudo, por serem alimentos fermentados, muitos efeitos positivos podem ser gerados a partir do consumo regular desses alimentos (veremos a seguir).
Os probióticos são conhecidos por gênero, espécie e cepa: por exemplo, Lactobacillus acidophilus ABC.
A designação da cepa é importante, pois diferentes cepas da mesma espécie podem ter diferentes efeitos à saúde.
A dose também é uma consideração, visto que um probiótico consumido em uma dose mais alta pode não necessariamente ter um benefício maior para a saúde do que aquele consumido em uma dose mais baixa.
O valor deve corresponder ao nível mostrado em um estudo de eficácia para conferir um benefício.
Benefícios à saúde
Os probióticos afetam o ecossistema intestinal estimulando os mecanismos imunes da mucosa, interagindo com microrganismos comensais ou potencialmente patogênicos,
E assim gerando produtos metabólicos finais, como ácidos graxos de cadeia curta, e se comunicando com as células do hospedeiro através de sinais químicos.
Estes mecanismos podem conduzir ao antagonismo de patógenos potenciais, a melhorar o ambiente intestinal, fortalecer a barreira intestinal, à regulação negativa da inflamação e à regulação positiva da resposta imune a desafios antigênicos.
Estima-se que esses fenômenos conduzem a efeitos benéficos, inclusive redução da incidência e gravidade da diarreia, a patologia que mais se beneficia do uso de probióticos.
São inúmeros os estudos que associam o consumo do probióticos à efeitos positivos no organismo.
Você pode acessar as Diretrizes Mundiais da Organização Mundial de Gastroenterologia e conferir todos os benefícios à saúde humana relacionados aos probióticos e prebióticos.
O documento está em português e foi publicado em 2017. É só clicar em baixar para ter acesso ao PDF.
PREBIÓTICOS
A definição de consenso atual para prebióticos é: “um substrato que é utilizado seletivamente pelos microrganismos hospedeiros que conferem um benefício à saúde”.
Assim, o conceito inclui três partes essenciais:
- uma substância
- um efeito fisiologicamente benéfico e
- um mecanismo.
Os prebióticos são componentes alimentares não-digeríveis que afetam beneficamente o hospedeiro, por estimularem seletivamente a proliferação ou atividade de populações de bactérias desejáveis no cólon.
Adicionalmente, os prebióticos podem inibir a multiplicação de patógenos, garantindo benefícios adicionais à saúde do hospedeiro.
A maioria dos prebióticos são fibras alimentares, mas nem todas as fibras alimentares têm propriedades prebióticas.
É bom salientar, que tal como acontece com as fibras alimentares, o consumo excessivo de prebióticos pode dar origem a flatulência ou inchaço intestinal.
Inicialmente consuma pequenas quantidades para permitir a adaptação do intestino…. e depois vá aumentando gradativamente o consumo.
Características de um prebiótico
- incluem resistência às enzimas salivares, pancreáticas e intestinais, bem como ao ácido estomacal;
- não deve sofrer hidrólise enzimática ou absorção no intestino delgado;
- deve ser metabolizado seletivamente no cólon por um número limitado de bactérias benéficas;
- deve ser capaz de alterar a microbiota colônica para uma microbiota bacteriana saudável e
- ser capaz de induzir efeito fisiológico que seja importante para a saúde
Entre as substâncias prebióticas, destacam-se a lactulose, o lactitol, o xilitol, a inulina e alguns oligossacarídeos não digeríveis, como por exemplo, os frutooligossacarídeos.
Benefícios à saúde
- Melhora a função digestiva (regularidade intestinal);
- Auxilia as defesas naturais do corpo;
- Melhora a absorção mineral;
- Ajuda a regular o “desejo de comer”.
Além disso, muitos outros estudos relacionam o consumo de prebióticos com diversos efeitos benéficos para a saúde.
Você pode fazer o download do arquivo em PDF (que está ali encima) para consultar todos os benefícios estudados atualmente (são muitos!)
SIMBIÓTICOS
Bom, e os simbióticos, que que é afinal?
Nada mais é que a combinação de pro + prebióticos.
Por definição, um simbiótico é um produto no qual um probiótico e um prebiótico estão combinados, como é o caso, por exemplo, quando um prebiótico, como o frutooligossacarídeo, é adicionado a um iogurte probiótico.
A interação entre o probiótico e o prebiótico in vivo pode ser favorecida por uma adaptação do probiótico ao substrato prebiótico anterior ao consumo.
Isto pode, em alguns casos, resultar em uma vantagem competitiva para o probiótico, se ele for consumido juntamente com o prebiótico.
O interessante é que esse efeito simbiótico pode ser direcionado, por exemplo, às diferentes regiões “alvo” do trato gastrointestinal, tanto no intestinos delgado como no grosso.
O consumo regular de probióticos e de prebióticos selecionados apropriadamente pode aumentar os efeitos benéficos de cada um deles, uma vez que o estímulo de cepas probióticas conhecidas leva à escolha dos pares simbióticos substrato-microorganismo ideais.
Tááá, mas onde encontrar tudo isso?
Atualmente, os alimentos probióticos disponíveis no mercado incluem sobremesas à base de leite, leite fermentado, leite em pó, sorvete, iogurte e diversos tipos de queijo.
Além de produtos na forma de cápsulas ou produtos em pó para serem dissolvidos em bebidas frias, sucos fortificados e alimentos de origem vegetal fermentados.
Os prebióticos podem incluir féculas, fibras dietéticas, outros açúcares não-absorvíveis, álcoois do açúcar e oligossacarídeos, sendo que este último é encontrado como componente natural de vários alimentos, como frutas, vegetais, leite e mel.
Em suma, invista nos derivados lácteos e produtos fermentados.
O interesse popular em alimentos fermentados aumentou durante a última década, acompanhando os avanços da microbiologia e fermentação na indústria de alimentos.
É importante frisar que os microrganismos nos alimentos fermentados nem sempre se qualificam como probióticos.
No entanto, microrganismos associados à fermentação que não atingiram o status de ‘probiótico’ podem compartilhar muitas das características de organismos probióticos conhecidos.
Ou seja, consuma sem medo!
Vai fazer bem.
E não esqueça de frutas e verduras que além de contribuírem com os prebióticos, possuem minerais, vitaminas e antioxidantes, como foi falado no último post.
Fique por dentro!
Se você quiser saber as notícias e pesquisas mais recentes sobre prebióticos e probóticos, não deixe de assinar a NewsLetter da ISAPP (Associação Científica Internacional para Probióticos e Prebióticos).
A ISAPP é uma organização internacional sem fins lucrativos que defende a ciência probiótica e prebiótica.
Fundado em 2002, o ISAPP reúne especialistas científicos líderes mundiais e mudou o paradigma de como os probióticos e os prebióticos são estudados e compreendidos.
No site, você tem acesso a diversos vídeos educativos sobre o assunto em questão.
Os vídeos são em inglês, porém, o próprio site ISAPP disponibiliza traduções em diversos idiomas (ainda não tem em português 🙁 , mas você pode escolher espanhol, que se aproxima mais do nosso entendimento).
Além disso, possuem diversos infográficos super didáticos explicando os temas sobre microbiota em geral, lactobacillus, leite fermantado, etc.
Por fim, você pode acompanhar o blog do ISAPP, e ficar por dentro dos principais estudos na área.
Sério, se você tem interesse nesse área, sem dúvida vale muito a pena se inscrever na NewsLetter e receber tudo em primeira mão.
OBS: O blog é inglês, mas facilmente você pode traduzir a página inteira para o português.
Se você usa o Google Chrome, por exemplo, é só clicar com o botão direito na página e selecionar “traduzir para o português”, como está aqui embaixo na foto.
Ainda,
O canal no Youtube da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp vem realizando um evento online chamado “CONEXÃO FEA“, que é ciclo de palestras que tem por objetivo apresentar o que há de novidade na área de Ciência, Tecnologia, Engenharia de Alimentos e Nutrição. Os diferentes temas são apresentados e debatidos por especialistas das respectivas áreas.
Aconselho você a se inscrever e acompanhar!
Mas, falando sobre o nosso post de hoje, há poucos dias atrás o CONEXÃO FEA realizou uma mesa redonda sobre Probióticos e Prebióticos – Desafios e Potencialidades, onde foram discutidos diversos temas sobre o assunto, desde o que são e como obter os probióticos e prebióticos, efeitos benéficos, seleção de novas cepas, encapsulação e muito mais.
Você pode ver o vídeo completo clicando aqui embaixo.
https://youtu.be/uunSaHJH0a8?t=1
E tem mais…
Para quem quer se aprofundar nessa área de estudo e pesquisa, vai ter nos dias 24 e 25 de novembro de 2020 um workshop internacional sobre probióticos e prebióticos.
Acesse o IG abaixo e fique por dentro do evento.
E por fim, siga também o Instagram do LLPP – FCA/UNICAMP que é o Laboratório de Lácteos, Probióticos e Prebióticos Faculdade de Ciências Aplicadas UNICAMP e acompanhe os eventos e estudos na área.
Alguma dúvida? Comenta aqui embaixo ou manda um direct lá no nosso instagram @cienciadealimentos.blog
Referências:
Food Ingredients Brasil. Probióticos e Prebióticos. Disponível em: https://revista-fi.com.br/upload_arquivos/201606/2016060596087001465308998.pdf
Associação Científica Internacional para Probióticos e Prebióticos. ISAPP. Disponível em: https://isappscience.org/
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